terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Um olhar etnográfico sobre os adeptos da alimentação natural

Como pensa uma pessoa que consome apenas produtos orgânicos? Ou o que motiva alguém a evitar a ingestão de carne? Engana-se quem acredita que os adeptos da alimentação natural procuram apenas uma vida com mais saúde. Não raro, suas escolhas representam razões ideológicas que se articulam como uma filosofia de vida. Investigar as linhas de pensamento deste grupo foi o desafio que a professora Maria Claudia da Veiga Soares Carvalho propôs-se em Bricolagem Alimentar nos estilos naturais, lançamento da Editora da Uerj.

A autora pesquisou as diferentes vertentes de alimentação natural e seus adeptos no Rio de Janeiro. Dentre as práticas naturais de alimentação, destacou a linha vegana e a do alimento vivo. Os primeiros restringem sua dieta a alimentos de origem vegetal ou fungos, já os segundos baseiam sua alimentação em sementes e alimentos crus. Para a autora, a preferência por uma dieta natural é uma ideia que surge “simbolicamente como resistência ao fast food, refletindo uma tensão com o industrialismo, especificamente com o seu caráter lucrativo e o consumismo” Esta linha de pensamento conjuga a pressa, a violência e a desigualdade social como antagonistas de um pensar que valoriza a alimentação natural, a ecologia, o artesanal e utopias.

Os capítulos apontam para os valores que os naturistas atribuem à sua relação com os alimentos. Como o de sacralização da natureza, traduzido em ações como afastar-se dos agrotóxicos e aditivos alimentares contidos nos produtos industrializados. Não ingerir carne também insere-se como uma crítica à violência e aos sofrimentos causados aos animais. Outro signo que Maria Claudia da Veiga detectou é o da contracultura com base nos ideais dos anos 1960. Neste caso, exaltam-se os direitos das minorias e a liberdade de expressão em oposição às “imposições do sistema” e às urgências do capitalismo. A simpatia pela contracultura demonstra a consciência do que significa ser partidário de uma alimentação natural em uma sociedade que é carnívora em mais de um sentido.

Bricolagem Alimentar é um conceito adaptado da proposta sócio antropológica que Lévi-Strauss chamou de bricolagem e, no caso deste livro, equivale à experiência de organizar o universo simbólico dos significados dos alimentos na vida das naturalistas. O campo etnográfico é basicamente composto pela classe média do Rio de Janeiro (às vezes não pelo poder aquisitivo, mas pelos hábitos) e a estratégia escolhida foi a dedesnaturalizar: interpretar o significado dos alimentos, e, principalmente “estranhar aquilo que era familiar ou natural a essas coisas”.

Indicado a estudiosos de nutrição social, o livro é um estudo etnográfico que serve de estímulo também para aprofundar uma reflexão sobre os hábitos alimentares do homem urbano em nossos tempos

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