quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Estudos sobre interação traz ensaios seminais da sociologia

Relacionamentos humanos permeiam a sociedade e merecem um olhar acurado da psicologia, da psicanálise, assim como de estudiosos de comunicação. Contudo, esse campo não é menos caro às ciências sociais, que se propõem a compreender os mecanismos que regem as interações entre seres humanos no cerne dos diferentes grupos da sociedade. Textos de referência nessa área agora podem ser conferidos no lançamento da EdUERJ, Estudos sobre interação: textos escolhidos, com organização e tradução de Maria Claudia Coelho.

Estudos sobre interação apresenta sete ensaios, com autores clássicos, como Herbert Blumer, Georg Simmel, Everett C. Hughes e Erving Goffman. A eles, somam-se teóricos contemporâneos, como Arlie Russell Hochschild e Jack Katz. Finalizando, um ensaio de Anthony Giddens sobre a obra de Goffman.

São artigos como "A sociedade como interação simbólica", de Herbert Blumer, que tem um papel-chave dentro da antologia, pois permite que se percebam, sob uma ótica mais lúcida, o papel e a proposta do interacionismo dentro do campo da sociologia.

Blumer dedicou-se ao interacionismo
Para exemplificar, enquanto áreas como a psicologia e a psicanálise procuram interpretar as motivações de um indivíduo, o olhar proposto pelo interacionismo é outro. Para Blumer, o enfoque reside em como os indivíduos constroem a ação individual ou coletiva, o que ocorreria por intermédio de uma interpretação das situações com as quais se deparam.

Outro aspecto vital ao interacionismo destacado por Blumer é que o ser humano está sempre enviando mensagens e diretrizes para si mesmo, exercendo uma "autoindicação". E, ainda que isolada, uma pessoa pode interagir com outra. Nesse caso, um exemplo seria o de alguém se embelezando para um encontro. "As pessoas não agem em relação à cultura, à estrutura social, ou coisas semelhantes, elas agem em relação a situações", frisa Blumer. "O individuo observa as coisas, avalia-as, dá-lhes significado e decide agir com base nesse significado", explica no ensaio.

Simmel: pioneiro da sociologia
Outro artigo importante da seleção criteriosa de Maria Claudia Coelho é "A tríade", de Georg Simmel, abordando, em uma interação, "o significado sociológico do terceiro elemento". Vale citar igualmente "As boas pessoas e o trabalho sujo", de Everett C. Hughes, que, ao mirar o holocausto provocado pelos nazistas, faz a seguinte indagação: como esses milhões de pessoas comuns (referindo-se aos civis alemães) puderam viver em meio a tanta crueldade e tantos assassinatos sem que houvesse um levante geral contra isso e contra as pessoas responsáveis? Essa questão não pretende demonizar os alemães, mas propor uma reflexão sobre a participação de cada um de nós em meio a situações-limite.

Em Estudos sobre interação: textos escolhidos, encontra-se uma sociologia interacionista que oferece argumentos para debater tópicos como as dinâmicas de formação de grupos, os estudos das emoções e as tessituras que formam as dimensões subjetiva ou privada da vida individual. O resultado conduz o leitor a uma empreitada pela cercania da sociologia. Assim, a obra torna-se indicada, sobretudo, aos interessados em compreender os fenômenos sociais.

Um comentário:

  1. Maria Cláudia Coelho trouxe para nossos alunos -- e para leitores especializados ou não, de A a Z -- um livro que faltava, desses que se tornam referência obrigatória. Nos meus cursos sobre métodos, sempre fazia falta uma coletânea como essa, já que o Interacionismo tem sobre si certa marca negativa entre sociólogos, particularmente os de minha geração. Um livro dessa qualidade ajuda a espantar fantasmas. A EdUERJ está de parabéns. Valeu, Italo Moriconi.

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.