quinta-feira, 15 de maio de 2014

Em debate: como publicar poesia?

Kriller71: Leminski
Parafraseando Euclides da Cunha e o que ele disse sobre o sertanejo, podemos nos referir àqueles que se aventuram pela seara da edição de poemas. O editor de poesias é antes de tudo um forte, seria uma possível conclusão de quem compareceu ao debate realizado durante o evento “20 anos da EdUERJ – Encontros com Aníbal Cristobo”.

Foi numa terça-feira 13 de maio, na Casa Dirce Cortes, em Botafogo, com o empecilho dos poucos ônibus na rua, devido à greve. Mas isto não significou que não houvesse um público fiel. Havia e, melhor, interessado nos caminhos/futuros da poesia contemporânea. E a mesa de debate? Vamos a ela.

Além do poeta/editor argentino Aníbal Cristobo, contou com Marília Garcia, que trabalhou na Editora 7Letras, os poetas Lucas Matos e Márcio Junqueira, do Blog Bliss não tem Biz, e o editor executivo da EdUERJ, professor  Italo Moriconi. Pelos depoimentos, ficou nítido que publicar poesia não é um convite à morosidade.

Marília Garcia, que trabalhou na Editora 7 Letras e integra a
equipe da Revista Modo de Usar e co, considera o tipo de atividade que “pede o jogo de fazer e desfazer para voltar ao ponto inicial onde existe o espanto”.  Para ela, no mercado das edições independente, “o desafio não é vender, mas editar sem as maneiras de antemão já prontas”. E cita como exemplo de uma ação transgressora, a coleção Moby Dick, artesanal, da Editora 7Letras, feitos com uma impressora doméstica e uma tiragem pequena.
Aníbal Cristobo trouxe sua experiência internacional. Ele enxerga no mercado editorial espanhol um clima conservador nem sempre propício para a arte. E cita concursos realizados pelo governo com temas tolos, como poesias sobre touros, o que despertou uma reação entre o riso e a estupefação. “O mercado editorial espanhol não está acompanhando o que está acontecendo”, declarou. Por conta da falta de visão das grandes editoras, Cristobo passou na frente e acabou conseguindo editar uma antologia de Paulo Leminski. “Achavam que era um autor que só interessaria ao Brasil”. Cristobo também criticou o fato de que não se publica nada sem fazer previamente um projeto para descobrir a viabilidade comercial da iniciativa. “Eu não quero pensar em termos de produto, mas como um agente cultural. A ideia não é esconder a fragilidade do projeto, mas apresenta-la, não como carência, mas como característica”. Sua ação de publicar e distribuir o material da Editora Kriller71  é “fazer um tipo de guerrilha e oferecer outra coisa”, diz referindo-se ao cardápio mais tradicional das grandes editoras. A Kriller71 já publicou na Espanha autores como Marcos Siscar, Arnaldo Antunes e outros.

O professor Italo Moriconi, em seu depoimento, valorizou a crítica literária. Para ele, a leitura que fez, na adolescência, de “Metalinguagem e outras metas”, de Haroldo de Campos, foi uma experiência fundamental para sua formação. Também falou da alegria de publicar, pela EdUERJ, a coleção Ciranda da Poesia. Moriconi acredita que o fato de ser editado por uma editora universitária confere uma força ainda maior ao título. Para ele, uma coleção que veio para ficar, em consonância com a tradição da própria Uerj de valorizar a poesia, o que sempre aconteceu por meio de ações do Departamento Cultural ou do Instituto de Letras.

Por fim, aventou com a possibilidade de disponibilizar alguns títulos da coleção, que já estão esgotados, em formato de e-book, o que significa novidades à vista.

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