quarta-feira, 29 de outubro de 2014

EdUERJ lança ensaios sobre a questão da biografia

Segue abaixo texto escrito pela professora Clarisse Fukelman sobre o livro "Eu assino embaixo: biografia, memória e cultura". 


22 autores em textos inéditos discutem o fenômeno biografia, sob coordenação de Clarisse Fukelman 

Autores: Ana Chiara; Andrea França; Antonio Edmilson Rodrigues; Caitlin Mulholland; Celso Castro; Clarisse Fukelman; Cláudia Pereira; Daniela Beccaccia; Débora Morato; Eneida Maria de Souza; Eliane Moura; Jacques Leenhardt; Joel Birman; Jorge de Souza Araujo; Maria Helena Werneck; Oswaldo Munteal; Rachel Viné-Krupa; Roberto Corrêa dos Santos; Sergio Miceli; Thamis Viveiros de Castro; Vera Lúcia Follain de Figueiredo



As biografias que editoras lançam no mercado a cada semana sinalizam o paradoxo de nosso tempo. De um lado, a escavação das memórias em romances, filmes ou peças de teatro; de outro, autorrepresentações passageiras, não raro exibicionistas, em selfies veiculados em redes sociais; entre ambas, a pesquisa séria de anônimos e personalidades, que dão nova luz a fatos, épocas, processos de criação.

O fenômeno instiga: por que escrever e ler histórias de vida? O que motiva alguém a empreender a tarefa de ordenar fatos e interpretar acontecimentos que iluminem uma identidade, um contexto histórico, político, cultural? Que pactos de leitura são instituídos?

Já foi tempo em que o caráter moralizante era a marca da literatura biográfica. Hoje esse viés compete com o registro menos totalizador do real, novas formas de subjetivação e interesse puramente comercial de atrair o leitor domesticado pela cultura do espetáculo e movido pelo descortínio da intimidade. Há casos ainda do performático, em que se diluem fronteiras entre autor e personagem, indicando a crise da instância autobiográfica em primeira pessoa.

A complexidade do tema é a força motriz de Eu assino embaixo: biografia, memória e cultura. Psicanálise, comunicação, direito, história, teoria literária, antropologia, cinema, teologia, estudos culturais, fotografia investigam modos de escrita; campo intelectual; contexto midiático; imaginário e memória; confronto entre visão oficial e marginal; relação entre artes; registro factual e ficcional; micro, macro e autobiografia; monumentalização da história; transformação do discursivo em imagens; memória particular e coletiva; arquivo e escrita psíquica; fala disciplinar e libertária etc.

O livro é “meio filhote” de seminário no CCBB-Rio, com a chancela da UERJ e curadoria de Clarisse Fukelman. Meio, porque de lá para cá outras questões se impuseram e intelectuais franceses se uniram a brasileiros, em edição dividida em seis blocos que dialogam entre si.

O bloco Mutações da escrita biográfica propõe a análise da escrita biográfica brasileira como alternativa para estudos de história literária e cultural (Werneck); o interdisciplinar na crítica biográfica (Souza); modelo etnográfico para entender a sociabilidade entre jovens no meio virtual (Pereira); o estatuto biográfico na literatura e no cinema em contexto midiático (Figueiredo); a discussão jurídica sobre biografias não autorizadas (Mulholland e Dalsenter).

A parte Entre o individual e o coletivo estuda textos biográficos à luz de articulações sociais: produção pictórica e diário da artista plástica Frida Khalo (Rachel Viné); valores simbólicos de pinturas por encomenda (Miceli); contradições teóricas de Sartre no empreendimento biográfico sobre Flaubert (Leenhardt); e epistolografia de Clarice Lispector como fonte para entender o valor da amizade na construção da carreira literária (Fukelman).

Sujeito, corpo e memória considera as inscrições corpo e tempo nas obras: Nava, Gullar e Graciliano em situações-limite de prisão e velhice (Chiara); reflexão filosófica de Bergson sobre o ser, o tempo, subjetividade e memória (Morato); escrita reflexiva que rompe a dicotomia pensar e sentir, movida pelo gesto de dizer de si pelo poético (Santos); a psicanálise na escrita/ ficção, com destaque para o escrito clínico (Birman); confessional e afetivo em passado marcado pela ditadura através do documentário de Flavia Castro, Diário de uma busca (França)

Religiosidades-Hagiografias relaciona biografia e religião, campo de escassa bibliografia: Mística cidade de Deus, obra de moralismo literário, popular no Brasil Colônia, escrita por madre franciscana (Araújo); e memória coletiva de missionárias protestantes norte-americanas, relacionando gênero a projetos evangelizadores no Brasil (Moura da Silva).

Construções do eu, leituras da cidade apreende o biográfico na tensão cidadão e cidade: na Bela Época, andanças de João do Rio em território urbano colam retratos da cidade à própria biografia (Rodrigues); no século 21, o tema favela confronta o cinema atual e o dos anos 70, em termos de estratégias estéticas e políticas, modos de produção e pontos de vista (Versiani).

Entre o povo e o palácio: mitos da política brasileira reinterpreta a era Jango e versão oficial de sua morte (Munteal) e a “Proclamação da República” como evento instaurador de novo regime político (Castro).

EU ASSINO EMBAIXO: BIOGRAFIA, MEMÓRIA E CULTURA dá ao leitor caminhos originais para entender processos sociais, culturais e artísticos implicados nas biografias. A polêmica em 2013 sobre bibliografias não autorizadas, o impacto de experiências radicais, a investigação de trajetórias de políticos, ídolos e gente do povo; os depoimentos, entrevistas e criações que contam processos existenciais e experiências artísticas (cartas de escritores, documentários) fazem do espaço biográfico meio essencial para discutir e compreender o indivíduo, a arte, a sociedade, no entrelaçamento do passado, presente e futuro, conforme ensina Walter Benjamin.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

EdUERJ publica clássico de Ernst Mach


Outro lançamento da nossa EdUERJ! Segue o release deste livro de Ernst Mach.



A ciência deve se pautar pela liberdade. Assim pensava Ernst Mach, físico, filósofo e historiador da ciência austríaco cujo clássico História e raízes do princípio de conservação de energia ganha sua primeira edição em português. Trata-se de um marco na história da ciência, editado originalmente em 1872, que agora chega para o público brasileiro via Editora da Uerj, com tradução a cargo de Gabriel Dirma Leitão.

Mach pautava-se pela aversão aos valores metafísicos, priorizando um conhecimento baseado no empirismo. Em seus estudos, buscava uma reaproximação da filosofia com a ciência por meio da compreensão da origem e do desenvolvimento  das ideias científicas. Mach defendia que o conhecimento e sua transmissão existem para a promoção de sua liberdade, e não o inverso.




Este livro integra a coleção Clássicos da Ciência, e a sua introdução, escrita pelo professor Antonio Augusto Passos Videira, ajuda não só a compreender as propostas de Mach, mas sua trajetória como cientista.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

EdUERJ conquista o Prêmio Jabuti!

Segue uma notícia que alegrou bastante a equipe da Editora da Uerj!

O livro Ciência do futuro e futuro da ciência: redes e políticas de nanociência e nanotecnologia no Brasil, de Jorge Luiz dos Santos Junior, ficou em terceiro lugar no 56 º lugar no Prêmio Jabuti, na categoria Ciências exatas, tecnologia e informática.

Por essa conquista, não só o autor do livro, mas a Editora da Uerj também receberá uma estatueta do Jabuti. A cerimônia de entrega do prêmio, depois de oito anos sendo realizada na Sala São Paulo, será no Auditório Ibirapuera, no dia 18 de novembro. Na ocasião, também serão revelados os vencedores do Livro do Ano-Ficção e Livro do Ano-não ficção.

Ah, mesmo antes desta escolha, nós publicamos uma entrevista aqui no blog com autor do livro, o professor Jorge Luiz dos Santos. Está fácil de achar, é só descer um pouco a barra de rolagem ou procurar o nome do professor nos marcadores à direita.


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Livro da EdUERJ investiga novo conceito de paisagem

Trabalhar um novo conceito de paisagem que corresponde a novas experiências com o espaço urbano e a sociedade e a novas aspirações coletivas relativas ao meio ambiente. Esta é a proposta de O gosto do mundo – exercícios de paisagem, lançamento da EdUERJ, de Jean-Marc Besse, doutor em História, professor da Universidade de Paris I e da École Nationale Supérieure du Paysage de Versailles. Com tradução de Annie Cambe, a obra explora a experiência paisagística além do campo visual, dando lugar a um estudo que atualmente inclui também outros sentidos, como o paladar, sugerido pelo próprio título.

O livro, composto por cinco ensaios, propõe-se a discutir o conceito de paisagem, refletindo sobre o ponto de vista de diversos profissionais, como paisagistas, arquitetos, jardineiros, sociólogos, geógrafos, entre outros. Além disso, enfatiza as associações da paisagem com outros temas, como cartografia, ressaltando o interesse na área por alguns artistas da land art (arte conceitual) dos anos 1960, que usaram o mapa como ferramenta plástica e teórica dando à pintura e à escultura uma abrangência geográfica.

Ao final da publicação, o leitor encontrará anexo um caderno com oito imagens em papel Couchê Matte. O gosto do mundo é um livro de caráter multidisciplinar, destinado a leitores interessados em cultura, urbanismo e sociedade contemporânea.


Escrito por Thaís Araújo

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Sobre o impacto do teste de paternidade com DNA

Um resultado de teste de DNA pode afetar profundamente a vida de uma pessoa. No caso de comprovação de paternidade, pode levar uma família a repensar verdades que antes pareciam incontestáveis. Pode surgir tanto como uma prova cabal de infidelidade quanto como um elemento para que os filhos reelaborem os sentimentos em relação aos novos (ou antigos) pais. Por essa possibilidade de trazer à tona uma verdade escondida, o teste de DNA pode ser temido ou desejado. O resultado pode ser o estopim que irá garantir uma pensão ao filho reconhecido, mas pode também simbolizar um elemento no qual o homem e a mulher devem pensar antes de uma relação íntima sem métodos contraceptivos.

A dúvida sobre a paternidade do filho que afligiu o protagonista de Dom Casmurro não existiria hoje. O personagem machadiano resolveria o problema com um teste de DNA.


Trata-se de um exame que mudou os livros, as novelas, a ficção. E interferiu até nas políticas públicas: em dezembro de 2001, o Congresso Brasileiro aprovou uma emenda à lei nº 10317, incluindo os serviços de DNA na justiça gratuita garantida pelo Estado. O resultado é  uma revolução comportamental que merecia um estudo adequado como o proposto por  “Parentesco, tecnologia e lei na era do DNA” (EdUERJ), de Claudia Fonseca. 

Claudia Fonseca e sua equipe acompanharam mais de 100 casos de investigação de paternidade em diferentes instâncias do sistema judiciário do Rio Grande do Sul. O livro é uma abordagem antropológica sobre um tema que mexe com a sociedade brasileira. 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Estamos em Frankfurt!

A ABEU está na Feira do Livro de Frankfurt, o maior evento do setor no mundo. Compõem o stand das universitárias a EdUERJ e também as editoras FGV, Fiocruz, UFPR, Unesp, Unicamp, EDISE, EDUEPB, EDUFBA e EDUFF, além da SciELO Livros. Abaixo uma cópia do flyer criado pela Heloísa Fortes.

O evento ocorre até o dia 12 deste mês e sua principal característica é a comercialização de direitos autorais. A ABEU está no Hall 5.1, stand E-84.


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Reflexões sobre a idolatria

Judy Garland: vida atribulada
É muito interessante quando nos damos conta de que antigamente os artistas/cantores ou celebridades não tinham o suporte midiático que existe hoje, com o advento das redes sociais. Em nossa sociedade, todos os passos dos "seres midiáticos" são acompanhados. Pelos fãs ou pelas pistas deixadas pelos próprios artistas: "tuitadas", fotos no instagram, etc

Livro lançado pela EdUERJ
Nem sempre, contudo, foi assim. Alguns talentos do quilate do Tom Jobim não vivenciaram esta época, do "em tempo real". Por outro lado, estes artistas de outro período não deixam de estar presentes nas redes sociais. Não deixa de ser uma forma de mantê-los vivos, além de sua arte.

Judy Garland é um exemplo. Fenômeno em seu tempo, ela ainda conta com um séquito de seguidores em todos países do mundo. E, por não estar mais viva, sua vida pode ser recontada ao gosto do fã. São inúmeras biografias sobre a atriz. O seu mito é reforçado pelo fato de ela ter uma vida atribulada. Para os fãs, sua voz expunha na arte as dores da vida real.

Nesta aspecto, vale a pena conferir o trabalho de Patrícia Coralis em "A vida na voz - mídia, idolatria e consumo de biografias".A autora conversou com os fãs brasileiros de Garland, assim como analisou as biografias escritas sobre a atriz. Não só como trabalho de antropologia ou de abordagem de fenômenos da indústria cultural, é um livro com um olhar crítico sobre a idolatria, fenômeno intimamente conectado a impulsos consumistas. Muita gente não percebe isto.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

EdUERJ lança "A vida na voz"

No dia 7 de outubro, Patrícia Coralis lança, pela Editora da Uerj, A vida na voz – mídia, idolatria e consumo de biografias. A noite de autógrafos será às 18h30 na Casa de Leitura Dirce Cortes Riedel, na Rua das Palmeiras 82, em Botafogo.

Entre as características que a plateia atribui ao seu artista favorito e a verdadeira natureza de um ídolo pode haver um abismo. Fã e ídolo, personagens de um jogo contaminado pelo mundo virtual, são objetos de estudo de A vida na voz – mídia, idolatria e consumo de biografias. Pesquisa na seara da antropologia da comunicação social, o livro enfoca como hoje os fãs brasileiros da atriz/cantora Judy Garland se relacionam e de que forma alimentam o mito que cerca a atriz americana.


A autora analisa três temas pouco explorados nas pesquisas em ciências sociais: os fãs, as biografias e as comunidades virtuais. Com isto, torna-se indicado para os estudiosos dos fenômenos inerentes à indústria cultural que desejam um debate que inclua o impacto das novas tecnologias de comunicação.