quinta-feira, 14 de maio de 2015

Entrevista com a hebiatra Dra. Stella R. Taquette


No século XXI, o mundo gira muito rápido e as dúvidas relacionadas à descoberta da sexualidade estão ocorrendo cada vez mais cedo. Se na década de 1980, a vida sexual começava por volta dos 15 anos, hoje a iniciação acontece ainda mais cedo.
Em seu livro, além de conceitos teóricos, necessários para compreensão adequada da sexualidade, dos problemas da saúde e da importância da educação para prevenção, a Dra. Stella Taquette revela dados de pesquisas com adolescentes, envolvendo temas como homofobia, DST e HIV/Aids.

1. O início da vida sexual está ligado a muitos aspectos, além da maturidade biológica. Que outros aspectos ou variáveis podem ser destacados?

Dra.Taquette - As necessidades afetivas, o padrão social cultural, a influência do grupo de iguais, da família, o estímulo dos meios de comunicação, entre outros.

2. Sabe-se que a iniciação sexual de alguns adolescentes pode passar por uma experiência homossexual. Como o hebiatra vê esse momento em especial e em que período da vida a identidade sexual é definida?

Dra.Taquette - Podemos dizer que a identidade sexual tem três principais componentes: o sexo biológico que é atributo da natureza, a identidade de gênero que é o comportamento socialmente construído e a orientação sexual que é por quem nos sentimos atraídos para manter relações sexuais. É durante a adolescência e início da idade adulta que a identidade sexual se define, porém ela não é fixa e imutável. Pode alterar no decurso da vida ou em situações específicas.

Na busca pela identidade sexual os adolescentes passam por uma fase de experimentação que pode incluir contatos hetero e homossexuais que não são obrigatoriamente definidores da identidade sexual futura. O médico que atende adolescentes deve estar aberto a ouvir e acolher seus pacientes em suas inquietações e oferecer informações que os auxiliem a vivenciar suas sexualidades com prazer e segurança.

4. Que orientação você dá aos pais sobre a conduta familiar adequada quando a homossexualidade é revelada?

Dra.Taquette - Ouvir, acolher, orientar, respeitar, proteger e procurar ajuda com profissionais de saúde sempre que sentir necessidade.

5. Educadores, profissionais de saúde, assistentes sociais, entre outros agentes sociais, estão preparados para lidar com as mudanças nos atuais códigos de gêneros?

Dra.Taquette - Em minha experiência como médica de adolescente e pesquisadora observo que em geral estes profissionais reproduzem a heteronormatividade existente na sociedade e atendem os adolescentes como se todos fossem heterossexuais, dando pouca abertura para eles se revelarem.

6. Sua pesquisa destaca problemas de saúde que podem estar relacionados tanto a questões de gênero quanto à homossexualidade. Que problemas são mais comuns nos homossexuais?

Dra.Taquette - Os problemas não estão relacionados à homossexualidade em si e sim na forma como a sociedade encara esta questão que se configura num contexto de vulnerabilidade a determinados agravos à saúde. A homofobia presente na sociedade faz com que os adolescentes que têm desejos homossexuais se sintam estranhos, diferentes dos demais e têm medo de revelar à família. Acabam se isolando e ficam deprimidos. Em casos extremos podem tentar o suicídio. Essa rejeição social aos homossexuais também pode levar ao consumo abusivo de drogas, dificuldades escolares, comportamento sexual de risco, entre outros.

7. Como bem sabemos, discriminação e vulnerabilidade estão associadas. Como a sociedade pode ser beneficiada no campo dos direitos sexuais?

Dra.Taquette - O tema sexualidade deve ser debatido na sociedade de forma ampla, livre e não preconceituosa, com enfoque nas dificuldades vivenciadas pelos adolescentes e jovens. Vivemos hoje uma situação paradoxal, pois ao mesmo tempo em que os adolescentes são altamente estimulados sexualmente pelos meios de comunicação, quando têm atividade sexual ela é considerada precoce, ou seja, não é legitimada.

Por outro lado, existe um mercado muito lucrativo que envolve a sexualidade como a pornografia, o tráfico de pessoas, entre outros, que deve ser questionado. Uma alternativa já existente que deve ser reforçada é o Programa Saúde e Prevenção nas Escolas, política pública implementada através de parceria do Ministério da Educação com o Ministério da Saúde que objetiva oferecer educação sexual para adolescentes em todas as escolas do Brasil por meio de ações de promoção da saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e jovens.

Por Carmem Prata
Jornalista, pesquisa tecnologias de comunicação e cultura.
@carmem_prata

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